Um ano de Pandemia em Feira de Santana
Após um ano de pandemia em Feira de Santana é preciso fazer um balanço de como chegamos a uma taxa de 1,28 mortes por dia, ao colapso do sistema de saúde do município e a uma crise sem precedentes na história local.
Apesar de não seguir o negacionismo de Bolsonaro, que debocha das mortes, se recusa a se vacinar, usar máscara e trabalha ativamente para contribuir com a disseminação do vírus, a atuação de Colbert no comando do combate ao novo coronavírus na cidade está longe de ser um exemplo.
Para começar, o modo de operar a máquina pública a partir do autoritarismo, falta de transparência e corrupção compromete as possibilidades de resposta do Município à Pandemia e a qualidade técnica do quadro de funcionários que, em absoluta maioria, é contratado por indicação política e contratos escusos com empresas terceirizadas, e não através de concursos públicos e transparentes. Desde o princípio, informações básicas sobre os critérios para definição do local do hospital de campanha, testagem e utilização dos recursos foi negada à população. Não teve política de assistência ao setor cultural ou à população mais vulnerável, os recursos da merenda escolar não foram utilizados para viabilizar cestas básicas para estudantes da rede municipal de educação e a frota de ônibus foi reduzida mesmo com as pessoas frequentando as ruas normalmente, gerando ainda mais lotações que propiciam uma transmissão ainda maior do vírus
Até a coordenadora do combate ao novo coronavírus de Feira de Santana, Melissa Falcão, admitiu os limites da política de testagem do município, na qual as pessoas que têm que procurar a vigilância epidemiológica ao invés de haver busca ativa. Se houvesse, o Sistema acompanharia e rastrearia os casos a partir da rede de atenção básica e Agentes Comunitários de Saúde. O isolamento social na cidade não seguiu qualquer critério público ou baseado em evidências, mas sim os interesses do grande empresariado local, mais preocupado em proteger seus lucros do que as vidas das pessoas que vivem e trabalham no município. Ainda, no meio de uma crise sanitária que acelerou a crise econômica, social e humanitária que vivemos, a Prefeitura expulsou milhares de trabalhadoras e trabalhadores do comércio popular de rua do centro da cidade, também para os aplausos da elite local.
A nossa maior esperança, a vacina, parece cada vez mais distante após seguidos boicotes do próprio governo federal. Em pouco mais de um mês, nem 5% da população brasileira foi vacinada. Em Feira, apenas 46.349 doses foram recebidas e 33.921 foram aplicadas, em ritmo lento e sem inciativa do governo municipal para aquisição de novas vacinas. Quanto mais descontrolada a pandemia, maiores as possibilidades de mutação do novo coronavírus, o que já piorou e pode complicar ainda mais a situação brasileira.
Para coroar essa situação, o Governo Federal cortou o auxílio emergencial, e agora chantageia o povo com 4 parcelas de um auxílio emergencial de 250 reais, dizendo que isso só será possível com o corte de direitos trabalhistas e dos investimentos em saúde e educação. Mentira! Primeiro: cortar investimentos em saúde no meio da maior crise sanitária da história é um crime que condenaria mais milhares de brasileiros à morte. Segundo: cortar investimentos em educação após um ano de paralisia da rede de ensino público e dificuldade de retorno é igualmente criminoso. O Estado Brasileiro tem diversas opções de corte mexendo nos privilégios dos muito ricos, como aumentando a taxação sobre grandes fortunas e reduzindo o imposto sobre a renda dos mais pobres, ou cortando os 300 bilhões de reais anuais que cede ao grande capital. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para cada R$ 1,00 investido em políticas de assistência de renda como o Bolsa Família ou Auxílio Emergencial, R$1,80 retorna como crescimento para o PIB nacional, aquecendo e movimentando a economia e gerando consumo e emprego.
No entanto, assim como as classes dominantes no país, a elite de Feira de Santana fez uma escolha: lucro acima da vida. Para eles mais vale deixar as pessoas morrerem do que paralisar por um determinado período de tempo suas atividades. Experiências recentes comprovaram: o Reino Unido reduziu em 80% a transmissão da Covid-19 com um lockdown de 49 dias, a África do Sul diminuiu em 60% com medidas muito mais tímidas, como toque de recolher e limitações de aglomerações.
No Brasil, já foram mais de 260 mil mortes por Covid-19 e a média móvel supera 1.400 mortes por dia. Só com uma política de isolamento total e renda que garanta a vida das pessoas em isolamento poderemos reverter essa situação. Se eles dizem “lucro acima da vida”, cabe a nós gritar: vida acima do lucro! Fora Bolsonaro!